Ao chamar o crush de gatinha ou gatinho, lembre-se que você está agindo como um escritor naturalista.
O motivo? Essa é uma das características mais marcantes dessa estética literária que aproxima o ser humano dos instintos naturais e da animalidade!
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Em 1859, o biólogo Charles Darwin lançou a obra “A Origem das Espécies”. Nele, o autor deixa bem claro que não acredita nas teses criacionistas de que o ser humano foi criado por um ser divino.
Logo, ele se despede de Adão e de Eva e propõe que o ser humano é fruto de um longo processo de evolução, assim como todos os outros seres vivos. Esse pensamento ficou conhecido como evolucionismo.
A ideia de que o ser humano e os primatas têm um ancestral em comum gerou muita polêmica na sociedade da época, principalmente porque eles eram muito religiosos!
O que ninguém esperava era que a biologia fosse influenciar de forma tão intensa uma escola literária. O naturalismo usa com frequências as ideias de Darwin de que o ser humano, no fundo, é um animal como todos os outros e que não há nada de divino nele.
Além disso, os naturalistas também apreciavam o pensamento que Darwin tinha acerca da natureza: para o autor, a natureza é responsável por um processo de seleção em que apenas os mais fortes se adaptam e os mais fracos, infelizmente, desaparecem.
O darwinismo não é tão complicado quanto parece. Uma dica é ler ao livro “Darwin e a evolução em 90 minutos”. Nesse livro, o autor traz a proposta de explicar tudo sobre esses assuntos de forma que você possa ler em 90 minutos ou menos. Vale a pena para quem quer adentrar esse mundo.
O naturalismo é um movimento literário que veio diretamente do realismo. Ele também busca observar e analisar a sociedade, todavia, o naturalismo escolheu fazer isso com a ajuda da ciência. Por isso as ideias científicas de Darwin são tão importantes.
Outros autores que influenciaram bastante o movimento foram Auguste Comte e Hippolyte Taine.
Comte era adepto do positivismo e acreditava na ciência como um saber positivo superior a todos os outros. Taine, por sua vez, acreditava que três fatores eram essenciais para definir o ser humano: sua raça, o meio em que ele vive e o contexto histórico em que está inserido.
Para os naturalistas, os seres humanos são dotados de razão, mas mesmo assim não conseguem resistir às leis da natureza.
Portanto, os personagens desses romances sempre cediam aos desejos sexuais em detrimento de qualquer pensamento intelectual ou racional.
A análise psicológica do realismo é deixada de lado, uma vez que traços individuais não são importante para os naturalistas. Para eles, o relevante está presente nos fenômenos coletivos. É por isso que os personagens principais desses romances serão o proletariado!
No naturalismo, os personagens sempre são trabalhadores explorados pelos patrões: proletários que trabalham em minas de carvão, em pedreiras, em fábricas...
O objetivo é mostrar como esses ambientes de pressão podem levar o ser humano ao seu limite e à sua degradação.
Um exemplo é o romance “Germinal” de Émile Zola, que conta a história de trabalhadores de uma mina de carvão que entram em greve em busca de melhores condições de vida.
O naturalismo é uma literatura de tese, ou seja, usa as teorias científicas para comprovar seu argumento de que o meio influencia no ser humano e pode levá-lo à degradação.
Para isso, os escritores precisavam acompanhar as discussões de biologia e medicina que aconteciam na época para adicionar as informações em suas obras. De forma objetiva e racional, era mostrado o choque das classes sociais.
O público ficou chocado com as passagens de sexo explícitas nos livros e não foi fácil agradar aos leitores que estavam tão acostumados aos folhetins românticos e ingênuos.
A tese de animalização dos seres humanos devem ter assustado muitos leitores conservadores. Ela dizia que, inserido em um meio degradante, o ser humano perde sua humanidade e ganha características animalescas, passa a se comportar como um animal.
Sem razão, a personagem começa a ceder aos seus instintos naturais, que, muitas vezes, tendem a uma sexualidade desenfreada e à agressividade.
Alguns livros ficaram muito famosos e causaram bastante polêmica, como “O Bom Crioulo” (1895) que chocou o público por retratar fielmente como eram os relacionamentos homossexuais entre marinheiros. Aqui, é notável perceber que o naturalismo não deixa seu lado de realista de lado e continuava a usar descrições fiéis e retratos da sociedade.
O grande autor naturalista do Brasil foi Aluísio Azevedo. Ele inicia o movimento em terras brasileiras com o lançamento de “O Mulato”, em 1881.
Ele ficou conhecido como um autor das massas. Vivia da escrita e sempre escreveu muitas histórias para os jornais, inclusive enredos cheios de aventuras e intrigas amorosas. Contudo, ele leva o naturalismo a sério e escreve grandes expoentes do movimento.
Um de seus livros mais marcantes é “Casa de Pensão” (1890), que foi baseado em fatos reais. Um pensionista envolve-se sexualmente com a filha do dono da pensão. Naquela época, casos como esses eram processados, afinal, eles ainda não eram casados. A sociedade era extremamente conservadora. O protagonista foi absolvido e, por vingança, o irmão da moça assassinou o rapaz.
O seu livro mais famoso é o último romance naturalista que escreveu. “O Cortiço” (1890) é considerado sua obra-prima. Nele, há a confirmação da tese de que um ambiente degradante pode corromper qualquer ser humano, por mais puro que seja. Os maiores exemplos são os personagens Jerônimo e Pombinha.
Jerônimo era um trabalhador português honesto e esforçado até começar a viver no cortiço. Lá, ele conhece Rita Baiana e hipnotizado por sua sensualidade cai no ócio e na degradação. Pombinha, por sua vez, era uma moça virgem e pura que envolta nesse mundo acaba indo para a prostituição.
Os personagens sempre são comparados a animais e plantas e o próprio cortiço parece ter vida, tornando-se mais um personagem do enredo. Azevedo usava bastante a animalização dos seres humanos.
Outro autor muito importante foi Raul Pompeia, com “O Ateneu” (1888). Nele, o autor conta a história do menino Sérgio, que fora estudar no ateneu, um internato apenas para meninos.
Lá, ele é completamente corrompido pelo ambiente escolar nocivo. O autor faz uma crítica à forma como a jovem elite brasileira estava sendo educada em meio a violência, a pressão e ao preconceito.
O naturalismo é um movimento literário que utilizou a ciência para observar os comportamentos humanos, afinal, o indivíduo não era nada mais do que um animal que fracassa em tentar controlar seus instintos.
Você pode perceber isso melhor no filme “O germinal” (1993). Lá, você verá toda a exploração do proletariado e como o meio pode levar uma pessoa a situações desesperadoras.
O mulato
Ana Rosa cresceu; aprendera de cor a gramática do Sotero dos Reis; lera alguma coisa; sabia rudimentos de francês e tocava modinhas sentimentais ao violão e ao piano. Não era estúpida; tinha a intuição perfeita da virtude, um modo bonito, e por vezes lamentara não ser mais instruída. Conhecia muitos trabalhos de agulha; bordava como poucas, e dispunha de uma gargantazinha de contralto que fazia gosto de ouvir.
Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
— Mulato!
Esta só palavra explicava-lhe agora todos os mesquinhos escrúpulos, que a sociedade do Maranhão usara para com ele. Explicava tudo: a frieza de certas famílias a quem visitara; as reticências dos que lhe falavam de seus antepassados; a reserva e a cautela dos que, em sua presença, discutiam questões de raça e de sangue. (AZEVEDO, A. O Mulato. São Paulo: Ática, 1996.)
O texto de Aluísio Azevedo é representativo do Naturalismo, vigente no final do século XIX. Nesse fragmento, o narrador expressa fidelidade ao discurso naturalista, pois